Em sua obra Metamorfoses, Ovídio, poeta romano do século I, nos conta sobre o mito de Narciso.
O mito de Narciso é uma das histórias mais famosas da mitologia grega. Segundo o mito, Narciso era tão belo e tão vaidoso que, após desprezar inúmeras pretendentes, acabou se apaixonando pelo próprio reflexo. Morreu de fome e sede à beira da fonte de água onde via sua imagem refletida.
O mito nos ensina que o excesso de vaidade e falta de empatia pelos outros podem ser prejudiciais. Narciso se tornou símbolo do individualismo e do excesso de amor próprio.
Num tempo em que a autoimagem é colocada em um pedestal, dizer o que vou dizer, é ir na contramão disso tudo.
Mas o erro de Narciso, foi o de preferir mais a sua imagem refletida do que ele mesmo. Em Narciso, na verdade, não existia nenhuma fagulha de amor próprio.
O que existia era o encantamento na imagem que era refletida para ele e para as Ninfas(os outros).
E é isso que está acontecendo com a atualidade: forja-se uma imagem, um personagem e passa-se a amá-los mais que tudo.
Até os arquétipos do coitado do Jung, estão sendo usados como modelos fixo a serem incorporados e vividos. Como se pudéssemos descobrir qual deles nos agrada ou qual existe em mim e, uma vez descobertos, viverei como um “aventureiro” ou talvez como um “mago”, já que gosto de encobrir as minhas próprias safadezas, de vez em quando.
Deve ser o novo nome que estão dando ao horóscopo, já que são 12 arquétipos, ou deve ser mera coincidência. Nada contra a astrologia, vez ou outra me aventuro nas empreitadas virginianas. Nem vou falar dos 4 tipos de temperamentos, que estão sendo usados como rótulos. Hipócrates deve tá se contorcendo na sua catacumba.
Mas o tom da conversa, por aqui, é outro.
Ora, se eu fui feito para ser e refletir uma imagem e uma semelhança de um ser infinito, amar a si mesmo não deveria ser um amor a essa imagem infinita?
E na resposta a essa pergunta dar-se-á o início majestoso, mas rejeitado da humildade: “humildade é esvaziar-se, é sair de cena, e deixar que essa imagem infinita apareça”.
É mostrar a minha imagem tendo essa outra como modelo. De fato é uma autoimagem, mas é uma imagem pela qual eu fui criado para ser e mostrar. Portanto, não tem nada de construção. O que tem é de reconhecimento e de absorção.
Até o próprio termo “autoimagem” que é usado atualmente, caiu na contradição daqueles que buscam desenvolvê-la. Uma auto que de nada tem de si mesma, mas de modelos emprestados. Para isso, basta agora, na vida adulta, responder a pergunta que foi feita quando ainda criança: “- O que você quer ser quando crescer?”.
Desde a mais tenra juventude fomos ensinados a querer ser algo que nada mais era do que modelos profissionais, como se eles fossem uma garantia de ser alguém na vida: - Quero ser médico! - Quero ser bombeiro! - Quero ser enfermeira!
Pobre de nós que na tentativa de querermos ser algo(seja você mesmo), só revelamos nossa própria limitação e incapacidade de sermos se não formos o reflexo dessa imagem infinita.
Mas como a cuíca tonante é a imagem e semelhança dele mesmo, o homem, a partir de máscaras adquiridas, ao invés de se mostrar puro e aberto à construção de Deus, vai, cada vez mais, deixando de ser ele mesmo. E na tentativa de “tenha amor próprio” e “coloque-se em primeiro lugar”, “primeiro você, segundo você, terceiro você”, passa a amar mais um personagem mutante camaleônico que se adapta às ondas do momento do que a si mesmo.
SER EU MESMO, É SER CRISTO EM MIM.
“Que ele cresça e eu diminua”, perdeu a sua total utilidade até mesmo dentro do meio onde isso deveria ser a busca.
Para onde foi o: “NÃO SOU MAIS EU QUEM VIVO, É CRISTO QUE VIVE EM MIM”.?
Difícil, né? Diante de tantas pseudo maravilhas que nos são oferecidas.
Cada dia estou mais convencido que tudo isso dá-se pela falta de conhecimento prático, sim, pois o conhecimento está aí em todos os lugares do universo, o que falta é a prática dele. É muito lindo repostar as frases de efeito nas redes sociais. O que não é lindo é encará-las de frente na hora do “vâmo ver”. E o que mais vejo são relatos de esposas desesperadas pelos maridos que mostram ser uma coisa nas redes, mas que em casa, nem perto chegam do personagem que apresentam.(maridos pelas esposas, pais pelos filhos, etc).
Por fim, a morte de Narciso foi uma morte precoce. Na analogia do mito, nem precisa ser uma morte física, mas uma morte do próprio EU. Portanto, não estranhes, se durante suas relações com o próximo se sentires sozinho(a).
É porque já não existe mais ninguém por ali.
Só me resta hoje, na idade adulta, responder a pergunta que me foi feita na infância: - QUERO SER O QUE CRISTO FOI!